Queridos amigos, fans de trem.
Hoje perco um grande amigo, um Victor (não é o Martins não), mineiro, engenheiro ferroviarista, defensor ferrenho da volta dos trens aos trilhos brasileiros, de onde nunca deverial ter saído. Victor José Ferreira, marido doce e maravilhoso, pai doce e generoso, um mineiro maravilhoso, patriota, nacionalista, humanista.
Pois é, gente, “vão-se os heróis, ficam os caracóis”, dizia Ed Maroccas, ou “vão-se os heróis e ficamos em maus lençois”, dizia Vanzinho de Terê, o filósofo GG.
Como sabemos, os políticos brasileiros, na sua mediocridade histórica, desmancharam nossa rede ferroviária, no país onde ela mais faz sentido no hemisfério, Brasil, para dar lugar às rodovias, onde a “dentadura de Hachake”, funciona mais sorridente, beneficiando empreiteiras, máfias de ônibus, industrias automobilísticas, industrias de autopeças, industrias de pneus e outras mais, encarecendo fretes, matando milhões de pessoas a cada década, encarecendo e com o tempo, congestionando o nosso ir e vir, stressando motoristas, aumentando a grosseria das pessoas, a intolerância, alimentando a violência incubada em cada cidadão, aumentando os gastos com saúde, previdência, segurança e muito, muito mais coisas. Até hoje não se ouviu nenhuma ‘mea-culpa’ dessas figuras que, através de nossos votos, pensam que são donos do “bel-fazer” neste país.
Ora, ora, vários ferroviaristas deste país foram despedidos, perderam seus empregos e seu sentido de vida. Foram e continuam menosprezados pela cúpula do poder público, que, mesmo apontando para alguma mudança, ainda desdenham de uma tomada mais firme e moderna deste caminho de transporte.
As máfias concorrentes aliciam, com facilidade bom contingente de engravatados do voto. As cancões mineiras das últimas 4,5 décadas são bonitas, mas tristes que só elas, pois Minas, que era um estado precursor dos trilhos, foi violentamente arrasado pela quadrilha rodoviarista. E nosso Victor chorou muito com isso. Choraram Milton Nascimento, Fernando Brant, Marcio Borges, Murilo Antunes, Toninho Horta e tantos músicos, compositores e poetas mineiros, que através de sua arte denunciaram o massacre, mas nem foram ouvidos por quem deveria ouvir muito bem, Surdos municipais, estaduais e federais. E choraram muitos outros brasileiros.
Hoje se fala em novas ferrovias, mas se fala tb no preço delas. Neste aspecto, os movimentos ferroviaristas brasileiros faz muito tempo que discutem saídas, que com o passar do tempo, se tornam mais difíceis e viram justificativas para que a corja rodoviarista se mantenha por cima da “carne seca”.
Na frente destes movimentos ferroviaristas, vinha sempre o Prof. Victor, com sua voz calma, grave e sábia. Esse sujeito, mesmo com essas características, fez foi barulho. Muito barulho. Mineiro bom é assim. Parece quieto, mas comanda tempestades, no bom sentido, claro. Muita gente se achegou aos movimentos. O assunto veio ganhando força e, se os brasileiros realmente quiserem (largar seus carros nas cidades, não se estressarem nas estradas, não correrem tantos perigos de vida por desatenção propria ou de outros, conseguirem ter horários mais cumpridos, poder viver fora dos grandes centros mas trabalharem neles, etc, etc), essa tímida política ferroviarista que agora começa a se desenhar nos gabinetes públicos, pode ser transformada num mutirão nacional, onde os trilhos possam voltar a devolver aos brasileiros mais paz, tranquilidade, liberdade, pontualidade, prazer, saúde e econômia.
Pensem nisso, cidadania é pensar e, se der, fazer!
Que os trilhos do céu recebam o Victor no seu trem encantado!
Alea jacta est,
Ivan lins